Close Menu

Busque por Palavra Chave

Arte & manhas | Quando a emoção faz a língua tropeçar em si mesma

Por: Luís Bogo
07/03/2023 09:36 - Atualizado em 07/03/2023 09:36
Os Amantes I, Óleo de Magritte, 1928

Há uma relação extremamente íntima entre o abstrato e a realidade quando nos referimos aos sentimentos e à forma de expressá-los.

Quanto mais aguda a emoção, gerada por luto, intensa alegria, paixão repentina para o bem ou para o mal (quando escancara-se a face do ódio), ou pela doce constatação de que, enfim, o amor revelou-se e se fez carne diante dos nossos olhos (acelerando todos os impulsos elétricos que movem nossos pensamentos, fibras e músculos), é o músculo da língua que entra em colapso e tudo que deveria ser pronunciado com agilidade, delicadeza e leveza acaba se transformando em um discurso entrecortado e confuso, como se todas as pedras que pudéssemos encontrar pelo caminho resolvessem, repentinamente, se unir em forma de muralha.

É quando a língua trôpega, sem saída, carrega consigo todo o raciocínio lógico em direção ao abismo das ideias. É quando se perde a clareza, a precisão, e a palavra pronunciada deixa de ser fiel ao que vai na alma. A expressão emotiva e sentimental não se casa com a palavra exata e justa, com o pensamento razoável, sensato e adequado ao momento.

Somente a clareza e a limpidez do discurso poderiam, em tese, se aproximar do que vai na alma no momento que a sensibilidade está mais exacerbada. Porém, é nesse momento que as adrenalinas e suas primas embaralham o léxico: palavras simples desaparecem e outras, complicadas e inadequadas, surgem para tornar o que seria uma simples declaração em um discurso ininteligível.

Apenas o discurso conciso e objetivo seria capaz de tornar visível ao outro aquilo que está escondido no canto menos visível do coração e da mente; mas ele, covarde e confuso discurso, então gagueja.

É certo que a comunicação não se dá apenas através das palavras e que sentimentos e emoções podem transparecer em gestos, expressões faciais e corporais, na lágrima silenciosa, num sorriso tímido ou sonora gargalhada. E, da mesma forma que dispomos de múltiplos sinais para traduzir o que de mais profundo nos habita, precisamos igualmente nos municiar com certos instrumentos bivalentes que nos permitam, a um só tempo, entender o que sentimos e saber interpretar se a mensagem que transmitimos atingiu o receptor ao qual foi dirigida.

Assim dizendo, a vida parece se resumir a um extenso exercício semântico. Porém, é importante ressaltar que sempre será ou deverá ser um exercício de mão dupla. Da mesma forma que ansiamos pela compreensão alheia, precisamos estar abertos para compreender as mensagens que nos são transmitidas a todo instante.

Ao se desejar um mundo mais humanizado, torna-se obrigatório que saibamos identificar todos os sinais que recebemos e saber discernir entre lágrima de alegria e de tristeza; gargalhada de festa daquela de escárnio; o braço erguido ao grito de gol daquele que antecipa o golpe; a voz que sussurra indecências daquela que conspira; o sorriso de gratidão ou anuência do risinho irônico.

Pensando muito bem – e com muita cautela –, podemos concluir que certos sinais e as palavras certas podem emocionar e transformar sonhos em realidade. Temos sempre que estar prontos.


Semasa Itajaí
Unochapecó
Rech Mobile
Publicações Legais Mobile

Fundado em 06 de Maio de 2010

EDITOR-CHEFE
Marcos Schettini

Redação Chapecó

Rua São João, 72-D, Centro

Redação Xaxim

AV. Plínio Arlindo de Nês, 1105, Sala, 202, Centro